Acordei com vontade de um dia inenarrável, daqueles que habitam todas as memórias, que passam nos seus olhos na hora da morte.
Saí da cama com isso na cabeça, e depois que entrei no metrô lotado de sempre, lembrei do café fraco, do pão com manteiga corrido, e do copo de nescau acelerado; e isso me deu forças para por meu plano em prática.
Se estivesse na época da escola seria uma daquelas redações entituladas como "Um dia de Aventura", ou algo que o valha.
Pronto, desci do trem, escada rolante, e lá, na saída estava meu primeiro alvo:- um policial militar.
Cheguei sorrateiro por trás da mulher policial, e sem mais delongas já agarrei no trinta e oito dela, e com um forte puxão arrastei coldre e um pedaço da calça da oficial junto.
E aos gritos no meio da Avenida Paulista apenas se ouvia:
Tia, não me mata.
Moça, pelamordedeus.
Eu não passo mais a mão na sua bunda.
Buáááá, me deixa ir pra casa......
E assim que a oficial conseguiu me fazer largar do revólver eu saí correndo no meio da multidão, entrei numa daquelas galerias, virei a blusa, tirei as apostilas do curso de inglês e boas, estava livre.
Mas calma, meu dia inenarrável tinha mal começado.
Depois desse evento na Avenida Paulista, resolvi ir fundo na aventura. Comprei um saco de limão e comecei a esfregar nos vidros dos carros.
No começo a reação dos motoristas era de estranhamento, mas devido a minha cara rude, e aos palavrões, ninguém se mexeu. Nem reclamou.
Acabaram-se os limões, e sem muito mais o que fazer comecei a dar tapa no capacete dos motoqueiros malditos desgraçados. Era parar no farol sobre a faixa e PIMBA, dá-lhé tapão.
Ahahahaha, era engraçado porque ao sair correndo pro outro lado da avenida motoqueiro não sabia se revidava, se corria atrás, mas largar a moto era perigoso. hahaha, muito divertido.
Só perdeu a graça quando um ignorante puxou o revólver e ameaçou atirar, aí resolvi parar.
Isto posto, as aventuras na Paulista acabaram.
Resolvi descer a Consolação, mas não sem antes aporrinhar os amarelinhos / marrozinhos, categoria profissional bizonha que gera trânsito para justificar a própria existência.
Comecei a arreliar e por sorte um camelô me deu um apito.
Maluco, priiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, piiiiiiiiiiiiiii, só dava eu no meio do trânsito falando vem, pode vir, e o amarelinho falando sai daqui moleque. Eu muito sabido provocando - aí mané se liga, vai prender carroça e chevette sem vidro....
E a brincadeira durou até uma viatura da polícia parar no local.
Pronto, me desfiz do apito.
No meio da Consolação tive a idéia brilhante. Ao passar pela lotérica.
Pensei, divaguei, voltei, enchi o peito e gritei: - todo mundo com a mão na cabeça que é um assalto.
Cena mais engraçada, todo mundo se jjogando no chão, o caos.
Simples, virei as costas a saí andando. Nada, nem ninguém veio atrás de mim.
Me sentindo meio herói nessa altura, entrei na faculdade e pedi pizza na sala de aula.
Entregaram e ninguém questionou. Só o professor quis um pedaço, de calabreza se possível.
Assim, tudo tão fácil... Só faltou o grande final.
Pronto, fui no banheiro e comecei a jogar cocô lá pra baixo.
Merda, muita merda. Bombas de merda. Cocô enrolado em papel higiênico......
Ah se todo dia primeiro de abril fosse de verdade.
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