28 janeiro 2011

Lembranças pitorescas da infância

Hoje tive um estalo, e de repente me peguei pensando na loja de artigos religiosos da Praia Grande. Lembrando na verdade.
Do cheiro horripilante de bode, da carne-seca pendurada na entrada, das velas coloridas, dos barquinhos, e principalmente das estátuas, ah, as estátuas.
Iemanjá e o Preto Velho.

Com pedestais côncavos para as oferendas.
Do meu prédio para o mundo existiam dois caminhos. Um em direção a praia; era só virar a esquina e andar um querteirão até a avenida da praia. Outro era para a avenida principal, onde tinha tudo. Farmácia, padaria, mercado, lotérica, restaurante, lojinhas para turistas, artesanato de concha e siri.
E neste caminho tinha a lojinha de artigos religiosos, com suas velas coloridas e o Preto Velho sempre me olhando toda vez que eu passava.
Desconfiava que era por conta dos meus avanços as moedinhas quando menorzinho, pra comprar sorvete de máquina de garrafa,
mas depois sempre que tive oportunidade fiz questão de repor várias moedinhas, mais por receio que por culpa.
Na loja tinha também rapadura, raízes, corantes, temperos, garrafas, e cheiro de couro.
E tinha também chapéu de cangaceiro com estrelas e espelhos, e eu era vidrado naquela roupa toda, quase uma armadura, cinturão e uma garrucha. E facas e punhais.
Eles deviam ter promoção com a avícola vizinha, só faltava ter um Kit Trabalho completo custa tantos cruzeiros e favor escolher a penosa ao lado.
Mas o Preto Velho estava sempre lá, ano após ano.
As vezes era fácil perceber que tinha rolado uma funilaria na entidade, e em outras férias o desgaste era perceptível - camadas de tinta vermelha sobrepostas e aparentes, cascas do branco do terno caindo, e eu entendia isso como um chamado, e jogava moedinhas miúdas na cumbuca.
E aí eu fui crescendo, o horizonte ampliou, vários caminhos, mas como que por magnetismo TODAS as férias eu passava em frente a loja de artigos religiosos para dar um confere nas imagens; aliás é um ponto que gostaria de entender pois para mim todas essas lojas são muito parecidas senão iguais, e me pergunto se existe um guia padrão para decoração desse comércio. Não importa onde, elas são sempre muito parecidas.
E no ano novo somente lá tinha biribinha, bombinha, morteiro e rojão, pela ordem de utilização e também para satisfazer meus desejos piromaníacos.
Enfim, uma loja pequena que me traz grandes lembranças.

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